Os debates para as eleições estão mais serenos e não deixam de lado coisas sérias
Debate no léxico político português remete para muito mais do que uma simples troca de argumentos ou de ideias. Para muitos, significa confronto, combate, no qual tem de haver vencedores e vencidos. Algumas televisões trataram de dar esse colorido da batalha aos debates com pontuações dos seus comentadores. Pelo meio, esperam-se também momentos de génio que ficam lendários, como o célebre “olhe que não, olhe que não” de Álvaro Cunhal a Mário Soares, 19 dias antes do 25 de Novembro de 1975. Mas, apesar do contexto tenso, será que o clima dos frente-a-frente entre os dirigentes dos partidos está a reflectir a crispação que vimos, por exemplo, na assembleia da república com as moções de censura e de confiança? Depois da tarde do dia 12 de Março, a data em que o Governo cai, suspeitava-se que a campanha estaria indelevelmente contaminada pela propensão dos políticos para o conflito, quando não para o insulto. O pano de fundo da Spinunviva extravasava o tradicional debate entre Governo e oposições sobre temas como a Saúde ou a Habitação: entrara no domínio no património pessoal e familiar do primeiro-ministro e da sua ética. Ou seja, temas potencialmente incendiários tinham deixado de ser exclusivos dos partidos mais radicais e tinham-se instalado no coração do bloco central. Nada garante, no entanto, que as piores previsões se tenham confirmado. Os debates têm decorrido com serenidade. Com excepção de André Ventura, regras básicas da civilidade e o respeito pelo direito dos cidadãos ao esclarecimento têm sido cumpridas. Mais do que apenas os soundbites, a troca de opiniões tem reflectido as preocupações do nosso tempo, o que obrigou a discutir temas como a Defesa ou as tarifas de Donald Trump. Há neste caminho um aplauso para os jornalistas que fazem perguntas, mas também para os representantes dos partidos que lhes respondem. As audiências vão quase de certeza ficar longe dos 17,5 milhões de telespectadores do ano passado, mas mostram que entre os cidadãos há ainda interesse e preocupação com a política. O que ganha a democracia com esta civilidade e respeito? O que corre bem e o que podia correr melhor? Que partidos ficam a ganhar com o tom da pré-campanha? O que sabemos sobre a sensibilidade dos eleitores perante a crispação ou face ao debate civilizado? Convidámos para este episódio Filipe Teles, cientista político, Doutorado em Ciências Políticas e membro da Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas e professor no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro.See omnystudio.com/listener for privacy information.