Marine Le Pen sofre um golpe, mas é cedo para decretar a sua morte política
Depois de se conhecer a sentença aplicada por um tribunal de Paris a Marine Le Pen por apropriação criminosa de dinheiros públicos, tornou-se irresistível regressar ao passado e recordar uma máxima da antiga Frente Nacional que liderou durante anos: “Cabeça Erguida, Mãos Limpas”. Depois de ser condenada a pagar 100 mil euros, a quatro anos de prisão, dois dos quais de pena efectiva, e, mais grave ainda, ao ser impedida de se candidatar a cargos políticos durante cinco anos, Marine Le Pen pode manter a altura da cabeça, mas não pode reivindicar a limpeza das mãos. A Justiça deu como provado, e com provas sólidas, que durante anos, entre 2004 e 2016, o partido de Le Pen desviou mais de quatro milhões de euros do Parlamento Europeu para pagar aos seus funcionários, entre os quais uma secretária de Le Pen e um guarda-costas. Com uma enorme candura, um desses funcionários pagos com dinheiro europeu pedia a Le Pen para o deixar ir ver o Parlamento europeu, o que lhe permitiria conhecer o deputado ao qual, supostamente, estaria a servir ou assessorar. A mensagem foi obviamente incluída no rol das provas. Quererá isto dizer que esta acusação vai ser mesmo a “morte política” que a própria Le Pen admitiu caso fosse impedida de se candidatar às presidenciais de 2017? Talvez não. Como Le Pen disse numa entrevista televisiva em 2006, “os franceses estão fartos de ver os políticos desviar dinheiro, é escandaloso”, mas bem se sabe que os políticos de extrema-direita tem uma particular capacidade de resistir aos escândalos que adoram atirar para cima dos outros. Marine Le Pen pode ainda recorrer e ganhar o recurso a tempo das próximas presidenciais, ou pode mesmo esperar pela eleição seguinte. Ela tem, recorde-se, 56 anos. Para todos os efeitos, esta condenação de uma personalidade icónica da extrema-direita europeia deixa no ar perguntas obrigatórias. Servirá para a sua vitimização? Servirá como desilusão para os eleitores da extrema-direita em França e não só? Queremos saber as respostas em conversa com o historiador italiano radicado em Portugal Ricardo Marchi. Marchi escolheu a direita, e em especial a extrema-direita, como foco principal dos seus estudos. Tem vários livros publicados sobre o tema.See omnystudio.com/listener for privacy information.