Autogenesis é um podcast em que alguém fala sozinho, refletindo com espanto sobre a consciência de existir. Quinzenalmente aqui me apresentarei, fingindo falar ...
A cidade tem uma continuidade através do Tempo, como cada um de nós tem marcas de identidade que atravessam a nossa história individual. Tanto nós, como a cidade, estamos sujeitos a existir apenas no momento presente, constantemente entalados entre passado e futuro. À medida que a malha urbana se transforma, vamos analisando o passado e planeando o futuro, numa fuga permanente ao único tempo em que verdadeiramente sentimos existir. Agora. Assim é também com a nossa identidade. Na arqueologia do “eu” encontramos vestígios de quem fomos ou não chegámos a ser. Partículas que se sedimentam nos subterrâneos do edifício de quem julgamos ser hoje.
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Jardins
Os parques e os jardins de uma cidade servem também para nos lembrar do que perdemos quando construímos o nosso mundo aparte do que é natural no Mundo. Servem para nos religarmos ao que é natural e selvagem, paradoxalmente encontrando paz e conforto.
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Mercados
Os mercados são espaços em que cada um de nós é convidado a transformar a sua individualidade em transações, em aquisições, como se as coisas materiais que ensacamos fossem uma extensão de nós. Mas são também espaço de encontro, pois uma boa parte das necessidades e gostos individuais é comum a outros indivíduos que, como nós, acorrem às estações do dia a dia urbano, aos templos do consumo, aos fóruns onde tão depressa nos cruzamos com caras conhecidas como gozamos de um anonimato no meio da multidão.
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Sinos
Tanto no campo como na cidade há vestígios de outros tempos, objetos brônzeos que tocam no alto das torres sineiras marcando horas, cerimónias de alegria e de tristeza, assinalando rituais. Sempre os rituais. Os sinos são relógios que não precisamos de ver.
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Boas festas
Todas as vezes em que desejámos “boas festas” a alguém eram já uma festa também. Eram a celebração de estar vivo e um pouco menos só quando alguém despende de uns segundos para uma frase feita e previsível que reorganiza o caos e o absurdo, gerando algo familiar, conhecido e seguro.O que celebramos afinal, no Natal ou noutra festa qualquer é, acima das outras camadas culturais, religiosas e políticas, o estarmos vivos e acompanhados.Nota: este episódio contém fragmentos do episódio "Rituais".
Autogenesis é um podcast em que alguém fala sozinho, refletindo com espanto sobre a consciência de existir. Quinzenalmente aqui me apresentarei, fingindo falar para paredes, mas esperando secretamente que estas minhas divagações encontrem destinatários, como folhas de papel escrito, engarrafadas e deitadas ao mar.