Viver um burnout: “Trabalhava 12 a 14 horas por dia, de domingo a domingo. Vivia para o trabalho e ainda por cima detestava-o”
“Estava farta de estar mal-humorada, irritada, sempre. Não dormir e trabalhar e estar farta daquele trabalho e ter de continuar”: são as primeiras palavras que Thaísa Santos, técnica de marketing de 32 anos, usa para descrever o burnout que passou. Os primeiros sinais de alerta começaram em 2019: dores físicas, insónia, relações com as pessoas mais próximas cada vez mais tensas. Foram esses os factores que a fizeram pedir ajuda psicológica. Passou quase dois anos em tratamentos, que incluíram a toma de um antidepressivo, mas agora sente-se melhor e conseguiu mudar de emprego – agora trabalha para uma empresa que respeita o seu tempo e lhe dá flexibilidade.Não está sozinha. Estima-se que, na Europa, pelo menos 40 milhões de trabalhadores apresentem alguns sinais de burnout. As profissões relacionadas com os cuidados – médicos, enfermeiros, cuidadores informais – estão em maior risco, mas ninguém está isento de risco. Liliana Dias, psicóloga da área da saúde e do bem-estar no trabalho, explica que o principal sintoma de um burnout é “a exaustão emocional, que se traduz numa diminuição do envolvimento e da dedicação no trabalho”. Os primeiros sintomas podem ser físicos (“um cansaço que não se explica”) mas também um desinteresse no trabalho: “Perco o sentido, porque é que tenho de trabalhar?”.A pandemia também trouxe novos desafios, ao afastar-nos do local de trabalho e da dinâmica social associada, que tem um efeito protector. Mas mais do que burnout, a psicóloga usa o termo “definhamento” para explicar o que nos aconteceu durante a pandemia: “Ainda não estamos numa fase de exaustão emocional ou mesmo com outra patologia do foro mental, como depressão ou ansiedade. Mas estamos num definhamento dos nossos recursos emocionais e cognitivos.”